O Espírito Puro

Prólogo

Um belo final de tarde como quase todos os outros na vila dos elfos, o sol se pondo no horizonte, os animais se recolhendo às suas tocas, os sons da natureza trocando para o turno da noite, a calmaria sempre sendo contemplada pelo profundo olhar da jovem elfa, que apesar de estar habituada a admirar a riqueza natural de sua terra, ela sentira algo diferente nos ventos daquele dia.

Auraliny, mais conhecida como Aura, se encontrava no alto de uma árvore muito conhecida por ela, sua árvore predileta, e graças a isso a senhora curandeira, quase uma mãe para Aura, conhecendo seus passos, pôde encontra-la. Caminhava à procura da jovem e quando a avistou naquele olhar tão intenso, acabou também por fixar seu olhar por alguns segundos, e em seguida, abaixou a cabeça, abriu um leve sorriso no rosto, pois logo entendeu o que a elfa estava sentindo.

Com os dedos levemente entrelaçados nos galhos da árvore, Aura permanecia ali em silêncio, fechou seus olhos, como se não fosse necessário se equilibrar. Estava tão concentrada que a curandeira até mesmo demorou a se aproximar para chama-la, no entanto, com o seu próximo passo, Aura desperta, olha para ela e abre um tímido sorriso. A elfa desce da árvore com sutileza e abraça a senhora, que olhando para o sol, diz:

– Está diferente, não está?

Aura se vira para o sol que já quase não se pode mais ser visto, e permanece em silêncio.

A curandeira, com o olhar fixo no horizonte, continua:

– Está exatamente como quando você veio à vida... A natureza se preparou para sua vinda, minha querida. Um dia sereno, tudo estava mais espirituoso, as florestas, os animais, até mesmo as águas pareciam ter mais brilho. Neste dia, seu pai observava os campos no alto de uma colina, estava com o mesmo olhar profundo que o seu. Foi como uma luz que encheu de vida o coração de seus pais. Foi uma felicidade imensa...

A senhora faz uma pausa como se estivesse se lembrando dos antigos momentos e até mesmo dos acontecimentos de sua vida. Mas logo se vira e começa a caminhar:

– Mas venha, pequena. Akenehy está à sua espera. Ela estava separando algumas coisas e disse que precisava de sua ajuda. Por isso eu vim.

A jovem olha brevemente para a senhora, apenas sorri, e começa a caminhar em direção à vila junto a ela.

...

Aura se lembra vagamente de seus pais, mas os sente dentro de si como se estivessem vivos. Passaram-se muitos anos após o suposto desaparecimento, e apesar de não ter conhecimento sobre o ocorrido, Aura sempre viveu muito bem sob os cuidados da curandeira. Esta humana foi socorrida pelos pais da elfa, pois estava em péssimas condições caminhando nas estradas próximas à entrada do terreno élfico. Estava sozinha, sem casa e sem parentes vivos. A partir da ajuda, então, a senhora passou a morar com a família de elfos.

Apesar do amor que sente por seus pais, Aura possui um elo muito mais forte com Akenehy, sua irmã. Cresceram e viveram juntas, ajudando uma a outra. Eram tranquilas, tinham um bom relacionamento com os outros elfos da vila, mas nenhuma ligação muito forte. Ambas adquiriram conhecimento da magia dos elementos da natureza, além do básico da cura, pela senhora curandeira.

Somente o que as duas elfas sabem sobre o que ocorreu com seus pais, é o que eles lhes falaram no último dia em que foram vistos: Estavam a caminho de outra cidade, Gludio, a negócios.

...

Aura e a curandeira chegam à casa e encontram Akenehy que parecia ocupada separando comida e arrumando algumas vestimentas. Ela se vira, olha para Aura e diz:

– Estava pensando em sair da vila, certo?

~ ... Sim, estava.

– Eu já separei algumas coisas, mas quero que você dê uma olhada se falta algo.

As duas começam a organizar os suprimentos sem precisar de palavras, e a curandeira observa, dá um passo para trás para deixa-las e quando se vira para sair da casa, Aura e Akenehy abraçam a senhora e dizem:

~ Obrigada por tudo.